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O mito do sucesso e o evangelho da vulnerabilidade

(Título meu para a apresentação de Brené Brown no TED, que resumi abaixo)
   

A vergonha é facilmente compreendida como o medo de ser excluído, de ficar de fora. Há algo sobre mim que, se outras pessoas souberem ou virem, fará que eu não mereça ser parte do grupo?  As únicas pessoas que não sentem vergonha são as que não têm capacidade para empatia ou conexão.   Ninguém quer falar a respeito disso, e quanto menos fala, mais tem vergonha. O que sustenta esta vergonha: "Não sou boa o suficiente, magra o suficiente, rica o suficiente, bonita o suficiente, inteligente o suficiente, bem sucedida o suficiente". A base disso é uma vulnerabilidade dilacerante, essa ideia de que, para que ser aceitos, temos que nos permitir ser vistos, realmente vistos.

Algumas pessoas têm um forte sentimento de amor e senso de pertencimento, enquanto outras lutam para ter esse sentimento, imaginando se são boas o suficiente.  Somente uma variável as separa. As pessoas com forte sentimento de amor e pertencimento acreditam que elas merecem amor e pertencimento. A única coisa que nos mantêm desconectados é nosso medo de que não sejamos merecedores de aceitação.  

O que essas pessoas com senso de merecimento têm em comum?  Autoconfiança, sinceridade, autenticidade. Um senso de coragem de dizer quem são com todo o seu coração, coragem de serem imperfeitas.  Elas têm a compaixão para serem gentis consigo mesmas, primeiro, e também com os outros, 

Elas têm conexão  como resultado de sua autenticidade. Elas estão dispostas a abandonar a ideia de quem pensavam ser, quem deveriam ser, a fim de ser quem elas são. É isso que você tem que fazer para se conectar. Abraçar a vulnerabilidade completamente, mesmo que não seja confortável. Ter a disponibilidade de dizer "eu te amo", de fazer algo quando não há garantias, de respirar enquanto espera o resultado do exame médico. Estar disposto a investir em um relacionamento que pode ou não funcionar.

A vulnerabilidade é o centro da vergonha e do medo, da luta por merecimento, mas também é a fonte da alegria, da criatividade, do pertencimento, do amor. 

O que estamos fazendo com nossa vulnerabilidade? Por que lutamos tanto com ela? 
Anestesiamos a vulnerabilidade, quando estamos buscando ser aceitos pelos outros.

O que faz você se sentir vulnerável? Ter que pedir ajuda ao meu marido porque estou doente, começar sexo com meu marido/ minha esposa; ser demitido, demitir alguém; esperar o resultado do exame médico;  esse é o mundo em que vivemos. Vivemos em um mundo vulnerável. E uma das formas com que lidamos com isso é anestesiando a vulnerabilidade.
Ficamos mais endividados, obesos, viciados em drogas e medicamentos...

   
 
 

Você não pode anestesiar seletivamente algumas emoções.  Você não pode dizer aqui está a vulnerabilidade, aqui está a dor, aqui está a vergonha, aqui está o medo, aqui está o desapontamento, e eu não quero sentir isso.  Vou tomar umas cervejas, comer um chocolate, para não sentir isso.  Não podemos anestesiar somente alguns sentimentos, algumas  emoções seletivamente. Também anestesiamos a alegria, a gratidão, a felicidade. Então ficamos infelizes, procurando propósito e sentido para a vida, e então nos sentimos vulneráveis, e tomamos algumas cervejas e comemos chocolate.  Um ciclo perigoso.

Por que e como nos anestesiamos?  Outra coisa que fazemos é que tornamos certo o que é incerto. A religião se transformou de fé e mistério para uma certeza. Eu estou certo, você está errado. Quanto mais medo temos, mais vulneráveis estamos, e mais medo temos.  É assim que a política funciona hoje em dia.  Não há mais discurso, não há mais conversa.  Há apenas acusações, como uma forma de descarregar a dor e o desconforto. 

Nós nos aperfeiçoamos e, ainda mais perigosamente, aperfeiçoamos nossos filhos.  Quando seguramos um bebezinho nos braços, nosso papel não é dizer, "Olhe para ele, ele é perfeito. Meu trabalho é mantê-lo perfeito, certificar-me de que seja bem sucedido”.   Nosso papel é olhar e dizer: "Você é imperfeito, mas você merece amor e pertencimento". 

Fingimos que o que fazemos não tem efeito sobre as pessoas. Fazemos isso em nossas vidas. Fazemos isso nas empresas - seja numa operação de salvamento num derramamento de óleo, num recall - fingindo que o que estamos fazendo não tem um impacto enorme sobre outras pessoas.  Precisamos ser autênticos e dizer: "Sentimos muito. Vamos consertar".

Mas existe outro jeito:  deixar que sejamos vistos profundamente, vulneravelmente, amar com todo nosso coração mesmo que não haja garantias - e isso é muito difícil. Praticar a gratidão e a alegria nos momentos de medo, quando pensamos: "Posso amar tanto assim? Posso acreditar nisso com tanta paixão? Posso ser tão confiante a esse respeito?" e apenas ser capaz de parar, em vez de catastrofizar o que poderia acontecer, e dizer: "sou apenas tão grata, porque sentir-me tão vulnerável significa que estou viva".

 E a última coisa, que provavelmente seja a mais importante, é acreditarmos que somos suficientes. Quando começamos com um sentimento de que "sou suficiente", então paramos de gritar e começamos a escutar, somos mais bondosos e gentis com as pessoas ao nosso redor, e somos mais bondosos e gentis conosco.


( Veja na íntegra em http://www.ted.com/talks/brene_brown_on_vulnerability )

 

 

   
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